A benevolência é símbolo de resistência e vira principal indicador de bem-estar para quem faz, recebe e até para quem só assiste ao ato, diz estudo.
Há 10 anos, o relatório mundial da felicidade baseia-se em duas premissas: que a felicidade pode ser medida por pesquisas de opinião e que os principais determinantes do bem-estar podem ser identificados, explicando assim os padrões de vida e a satisfação dos povos.
Essas informações, no que lhes concerne, podem ajudar os países a elaborar políticas que visem uma sociedade mais feliz. Jeffrey Sachs, diretor da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU, explica a origem e o propósito do Relatório Mundial da Felicidade da seguinte forma. “Há uma década, governos de todo o mundo expressaram o desejo de colocar a felicidade no centro da agenda de desenvolvimento global. Eles aprovaram uma resolução da Assembleia Geral da ONU para esse fim.” O “World Happiness Report” nasceu dessa determinação de encontrar o caminho para um maior “bem-estar global”, diz ele, e completa: “Agora, em tempos de pandemia e guerra, precisamos desses esforços mais do que nunca”.
Mensurar a felicidade não é nada novo, assim como as “causas” que embasam uma vida feliz já vêm sendo amplamente estudadas inclusive em meta-análises (o chamado estudo dos estudos), trazendo à luz da ciência, conhecimento passível de ser verdadeiramente aplicado.
Toda essa gama de estudos possibilita que as pessoas, as organizações e as políticas públicas possam fazer uso dela para a construção de uma vida com mais sabedoria, e até com mais produtividade e eficiência.
Ser feliz está na base do desenvolvimento sustentável da humanidade; enquanto as gerações atuais têm a oportunidade de vivenciar uma vida mais saudável e plena, o crescimento não compromete o futuro das próximas gerações. Porque quanto mais “feliz”, mais comprometidos com o bem-estar coletivo se é.
Dentre as muitas descobertas promissoras, identificadas pelo relatório, vale citar:
- A transformação do interesse público pela felicidade;
- Aumento no número de líderes em todo o mundo que veem a felicidade como um objetivo importante e abrangente nas organizações e políticas públicas.
Com o incentivo da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, órgão de importância internacional para assuntos que vão além da economia, incluindo educação e meio ambiente, quase todos os países membros da ONU, medem a felicidade de seu povo anualmente.
Algo de realmente novo?
Ainda que tenha havido, em média, uma tendência ascendente no estresse, preocupação e tristeza na maioria dos países e um ligeiro declínio no prazer de viver a longo prazo, há luz no fundo do túnel. A benevolência, resiliência e confiança crescentes são fatores que chamam positivamente a atenção durante a covid-19 e além.
Os dados de 2021 confirmam que as avaliações médias de vida, efeitos de compensação de influências negativas e positivas, permaneceram notavelmente resilientes durante a covid-19.
Vale ressaltar que para os jovens a satisfação com a vida caiu, enquanto para aqueles com mais de 60 anos (a geração prateada) aumentou.
A benevolência forneceu um suporte notável para as avaliações de vida de doadores, receptores e observadores, que ficaram satisfeitos em ver a prontidão para estender a mão, para ajudar uns aos outros em momentos de vulnerabilidade, o que corrobora com incontáveis pesquisas da ciência da felicidade que comprovam a afirmação de que“ dar é melhor que receber” e, principalmente, que altruístas são mais felizes, enquanto contribuem para a felicidade de outros.
Os dados são claros: houve um grande aumento na proporção de pessoas que doam para a caridade, ajudam desconhecidos, e fazem trabalho voluntário em todas as regiões globais. Ao todo, a média dessas três medidas aumentou um quarto em 2021, em comparação com antes da pandemia.
FIB (Felicidade Interna Bruta) x PIB
A contribuição de melhorias nas pesquisas envolvendo a ciência da felicidade prometem fazer a grande diferença no bem-estar subjetivo com três grandes vertentes:
- A primeira é nossa nova capacidade de medir o conteúdo de felicidade do texto, seja em livros ou mídias sociais. Isso pode ser feito mecanicamente contando a frequência de diferentes categorias de palavras ou através do algoritmo que também analisa o conteúdo. Esses métodos mostram que as referências à felicidade aumentaram acentuadamente nos últimos dez anos. As referências à renda e ao PIB caíram e se tornaram menos comuns do que as referências à felicidade. Estas são tendências encorajadoras no longo prazo.
- Uma segunda grande área de progresso, diz respeito à relação entre biologia e felicidade, os “biomarcadores” de felicidade, além de questões genéticas.
- A terceira área de avanço é a gama de emoções cobertas pela pesquisa da felicidade. O Ocidente tende a ignorar emoções positivas importantes que envolvem baixa excitação — como calma, paz e harmonia. Pesquisas recentes mostram como essas emoções contribuem significativamente para a satisfação geral com a vida. Em 2020, pela primeira vez, a Gallup World Poll, organizadora do relatório, fez perguntas sobre a experiência de vida em equilíbrio.
A confiança torna você resiliente
Relatórios anteriores examinaram a ligação entre a confiança das pessoas nos governos, instituições e a felicidade (como múltiplos estudos comprovam a mesma relação em qualquer segmento da vida). Os resultados mostraram que as comunidades que possuem altos níveis de confiança são mais felizes e resilientes diante de crises.
Doações à caridade, ajuda a estranhos e voluntariado aumentaram em todas as regiões do mundo. Segundo o relatório, a média global das três ações (doações, ajuda e voluntariado) é cerca de 25% maior em 2021 do que antes da pandemia. Esse aumento de boa vontade, especialmente quando se trata de ajudar estranhos, é uma evidência poderosa de que as pessoas estão ajudando outras pessoas necessitadas, tornando o destinatário mais feliz, dando um bom exemplo para os outros e criando uma vida melhor para si mesmas.
Pelo quinto ano consecutivo, a Finlândia lidera a lista dos países mais felizes do mundo. A Dinamarca continua em segundo lugar, enquanto a Islândia subiu de quarto, no ano passado, para terceiro este ano. O Brasil subiu três posições em relação a 2020 e ficou na 38ª posição.
Os 20 países mais felizes do mundo em 2022 foram:
- Finlândia
- Dinamarca
- Islândia
- Suíça
- Holanda
- Luxemburgo
- Suécia
- Noruega
- Israel
- Nova Zelândia
- Áustria
- Austrália
- Irlanda
- Alemanha
- Canadá
- Estados Unidos
- Grã-Bretanha
- República Tcheca
- Bélgica
- França
Nenhuma grande novidade para quem já age pelas razões certas.
Ame ao outro como a si mesmo, seja altruísta, cuide do mundo à sua volta, seja bom, generoso, gentil, confiante, grato, compassivo. Medite, respire, cultive a paz, inclusive a interior.
A grande diferença que vemos é que hoje encontramos esses fatores estudados por milhares de cientistas e pelos maiores institutos de pesquisa do mundo, todos ocupados em comprovar o que muitos intuitivamente, filosoficamente ou por questões de espiritualidade sempre fizeram:
“ Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.” (Fernando Pessoa)
Fonte: https://oespecialista.com.br/opinioes/a-benevolencia-como-simbolo-de-resistencia/